Desde
o último domingo, dia 10 de junho, quando o programa Fantástico da rede
globo veiculou a matéria sobre parto humanizado domiciliar, uma série
de manifestações e debates tem ocorrido entre os profissionais da saúde e
a sociedade civil. Após a ameaça de denúncia, sofrida pelo médico Jorge
Kuhn, marchas e manifestações aconteceram em diferentes cidades do
país.
A articulação da marcha foi feita pelas redes sociais, que mobilizou
pessoas de diferentes capitais e cidades. O movimento surgiu como
resposta e repúdio à decisão do Conselho Regional de Medicina do Rio de
Janeiro (CREMERJ), que enviou uma denúncia Conselho Regional de Medicina
de São Paulo (CREMESP), contra o obstetra Jorge Kuhn, que se posicionou
a favor do parto humanizado domiciliar na reportagem da TV Globo no
Fantástico.
As capitais e cidades participantes foram: Belo Horizonte (MG),
Brasília (DF), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Maceió (AL), Porto
Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), São Paulo
(SP), Fortaleza (CE) e Vitória (ES) e mais algumas cidades do interior se tornarão palco
de manifestações das mulheres pelo direito de escolha.
Diante das informações já divulgadas, Brasília reuniu nas ruas, mais
de 400 pessoas, em São Paulo, foram mais de mil pessoas que percorreram a
Av.Paulista e encerraram em frente ao CREMESP, em Salvador mais de 150
pessoas percorreram a orla. A marcha do Rio de Janeiro, também teve a
sua programação encerrada em frente ao CREMERJ, como forma de protesto
pela posição tomada.
Atualmente,
no Brasil, 98% dos partos são hospitalares. As cesarianas ultrapassam
50% dos partos, chegando a impressionantes 80% no setor privado. Segundo
a carta aberta da organização da Marcha pelo Parto, o uso abusivo da
tecnologia é acompanhado por taxas elevadas de mortalidade materna e
perinatal. Mesmo com esses números, os conselhos e sociedades ainda
ignoram a realidade e defendem o modelo de parto violento e autoritário
que resulta no chamado “Paradoxo Perinatal Brasileiro”. O Brasil é
recordista mundial de cesáreas.
Em Campinas, com aproximadamente 500 pessoas, a marcha do parto
reuniu mulheres, homens e crianças, muitas nascidas de parto humanizado e
residencial, que defendiam o direito das gestantes escolherem o local
do parto. Além disso, os manifestantes reivindicam o parto humanizado e a
liberdade dos profissionais da saúde, pois a censura aos profissionais
por emitir opiniões e adotar procedimentos finda por limitar o direito
de escolha das mulheres.
Compartilhando
da mesma opinião do obstetra Jorge Kuhn, o médico sanitarista Pedro
Tourinho, em sua fala na marcha, destacou: “os profissionais de saúde
precisam ser educados para compreender que o parto é um procedimento
fisiológico e não cirúrgico”. Defendeu ainda que Campinas passe a contar
com uma casa de parto natural, tornando o parto humanizado acessível
dentro do Sistema Único de Saúde.
O Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), por meio de nota,
manifestou o seu apoio à luta aos diversos movimentos de mulheres, que
estão organizando e participando da Marcha do Parto em Casa. Manifesta
também, que o Médico e Professor Jorge Kuhn, vem ao longo da sua
trajetória acadêmica e profissional , colaborado sobremaneira para esse
debate, e que a tentativa de coibir e constrange-lo, não só fere um
direito nacional como também traz um perigoso precedente que ameaça a
todos os profissionais médicos, que podem ser alvo de pressões ao
defender posições contrarias aos interesses corporativos, que pouco tem a
ver com a saúde das pessoas.
A marcha foi realizada pela liberdade de escolha e pelo respeito ao
protagonismo feminino. Escolher o local de parto é um direito humano
reprodutivo e sexual, defendido e garantido pelas grandes democracias do
planeta.
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